terça-feira, 15 de setembro de 2009

Desenvolvimento sustentável !!!!!!!!!!!

Marina da Silva e a noção de tempo


A possibilidade do lançamento da candidatura da senadora Marina da Silva para
presidente na próxima eleição está agitando o cenário político brasileiro.
Todos concordam que é a grande novidade do momento na corrida eleitoral porque
quebra a bipolaridade PT-PSDB, Dilma-Serra. Outros vêem mais longe e apontam
para o fato de que ela traz para a mesa principal da discussão política algo
de fundamental para o futuro do país e da humanidade: a noção de
desenvolvimento sustentável.
Está na moda hoje falar em "verde", ecologia e sustentabilidade. Como todas as
palavras de moda, essas também acabaram se impondo sobre os discursos de
pessoas - especialmente dos políticos - que estão mais interessados em
acompanhar a "onda" do momento, em agradar o seu público, do que realmente
modificar o seu modo de ver e agir.
Há também grupos e pessoas que radicalizam o discurso de "defesa da natureza"
e são contrários ao primeiro termo da expressão: desenvolvimento. Para eles,
a noção em si de desenvolvimento deveria ser abandonada porque estaria
irremediavelmente comprometido com a visão industrial do século XIX-XX e com o
antropocentrismo moderno que pretenderia dominar e explorar a natureza em
função dos interesses humanos, e assim estaria em contradição frontal com a
defesa do meio ambiente. Defendem uma economia que não busque nenhum tipo de
crescimento ou desenvolvimento, mas que seja fundada somente na noção de
sustentabilidade.
Entretanto, se olharmos a realidade social-ambiental, não a partir de uma
visão geral e abstrata que considera o meio-ambiente e os seres humanos em
totalidade, mas sim a partir de realidades dos pobres, podemos perceber que há
muitas regiões em que o desenvolvimento econômico-social é fundamental para
permitir que pessoas superem a situação de miséria ou de pobreza. É claro
que esse desenvolvimento não pode ser entendido como um crescimento econômico
que destrói o seu meio-ambiente e, com isso, as condições que permitem a
reprodução da vida. Daí a importância de pensarmos a expressão como um
todo: "desenvolvimento sustentável".
Há uma questão fundamental no "desenvolvimento sustentável" que não é muito
discutida hoje, a noção de tempo. É mais comum debatermos a partir da noção
do meio-ambiente, que já está presente, por exemplo, em Marx quando ele fala
que o capitalismo, com a sua lógica de acumulação do capital, destrói a
natureza e os trabalhadores, que são fonte da sua própria acumulação.
A noção de sustentabilidade pressupõe uma possível contradição entre o
modo como as coisas funcionam hoje, no presente, e a situação projetada do
futuro. Isto é, o fato de que o sistema econômico está funcionando bem - na
perspectiva do sistema - não garante que estará no futuro. Isto é, o futuro
pode ser pior do que o presente, porque o atual sistema não é sustentável a
médio e longo prazo.
Essa idéia de que o futuro pode ser pior assusta (quase) todas as pessoas. Por
isso, ideologias que prometem que o futuro está garantido (seja porque o
progresso sempre caminha para frente, o mito do progresso, ou porque "Deus está
conosco e não vai falhar" ou então porque "as energias do universo conspiram a
favor da `vida´ e nos levará ao futuro pleno", etc.) sempre têm "ibope"
alto. Enquanto as pessoas preferirem se esconder atrás dessas ideologias
(seculares ou religiosas), a importância da proposta de um desenvolvimento
sustentável não será entendido na sua profundidade. Ela poderá ser repetida
até exaustão nos discursos ou debates, mas no fundo haverá nessas pessoas uma
"certeza" íntima que no final tudo vai dar certo.
A possível candidatura da senadora Marina da Silva coloca na mesa da discussão
político-cultural-religiosa duas mudanças profundas em relação à cultura
moderna: a) o amor à vida que floresce e se expressa na natureza (onde estão
incluídos os seres humanos); b) uma nova visão do tempo e de história, que
não seja linear e nem pré-determinada, e inclua a possibilidade real de que o
modo como vivemos o presente pode tornar inviável o nosso futuro. Isso exige
também uma nova visão da vida humana e de religiosedade. Um ser humano que é realmente
responsável pelo seu presente, seu próximo e o meio-ambiente, e futuro. E uma
religiosidade que se revela no amor-solidário e que apela a essa solidariedade
e responsabilidade frente ao próximo e ao meio-ambiente, mas que não garante
nenhum resultado, muito menos um "final feliz" para a nossa história humana.
Mudanças profundas na cultura humana não são perceptíveis facilmente. Elas
são resultado de muitas "ondas superficiais" que alteram aos poucos o movimento
e a configuração das correntes mais profundas do inconsciente coletivo e da
cultura. O impacto da possível candidatura da senadora revela sua chance e sua
aceitação na sociedade. O que parece ser um sinal muito positivo de uma dessas
mudanças profundas.

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